Sempre detestei heroínas românticas. Melosas, dependentes e sem personalidade, irritam qualquer mulher que não tem um príncipe encantado à sua espera e tem que acordar cedo para trabalhar, lidar com problemas que não são seus e fingir que não tem problemas, porque, afinal, se você vive no século XXI, você não tem direito a simplesmente não ter o que quer...
Iracema, do José de Alencar, então, nem se fala. Morre de amor na beira da praia, porque o amado não a quer mais. Levante e vá à luta, minha filha! Seduziu uma vez, por que não fazer de novo?
Tudo o que incomoda, no fundo, no fundo, é porque se assemelha a algum aspecto nosso. É, dou a mão à palmatória e me entrego: tenho muito da Iracema em mim. Não, não sou a virgem dos lábios de mel, amada e desejada por todos, cantada em prosa e verso, não guardo o segredo vital de nenhuma tribo... Mas também fui vítima de um engano.
Iracema estava lá, quietinha, vivendo a vida dela, insatisfeita ou não, sei lá. Mas alguém tinha que lembrá-la do que ela não possuía. Então, vamos tentar, não é? Pra todo mundo é bom, por que pra mim não pode ser?
Mas ele se enganou... Percebeu que, no fim das contas, não era ela que ele queria... A vontade de mudar, de ver outras possibilidades, murchou. Preferiu voltar para o território conhecido, mesmo que medíocre, afinal , ali era seguro. O que fazer com ela?
Isso era problema dela. Ela é adulta, que lide com os próprios problemas... Se acreditou em promessas, que arque com as consequências da sua inocência (ou de ser trouxa, como você preferir...). E cada um que cuide de sua vida, certo?
Errado. Iracema fez o que estava ao seu alcance. Eu faço o que está ao meu. Iracema se entregou, preferiu morrer a encarar tudo isso. Eu tenho que lutar, fingir que nada aconteceu, não me entregar... Iracema podia ser romântica, eu não posso... Vivo a vida real, sem momentos dramáticos (por mais que eu sinta que são, não me é permitido sentir dor...), então, pra mim, a areia do mar é minha rotina, em que me “sento” e olho o mar... Quem sabe um dia...